A performance recorre a uma partida de xadrez sónica e luminosa, na qual as jogadas activam composições de som e luz. Assim, ao invés de uma experiência fechada e repetível, o resultado vive à mercê da incerteza, da forma aberta, da imaginação, e do desconhecido.
Jonas Runa desafiou José Pacheco Pereira para participar na performance Reunion XXI. Jonas Runa vs Pacheco Pereira, com duas novas obras sonoluminescentes do artista: Reunion XXI e Ouroboros*. As duas instalações estão interconectadas e são reactivas ao movimento das peças no tabuleiro.
O evento celebra os 50 anos de Reunion, uma performance colaborativa concebida por John Cage, que contou com a participação de Marcel Duchamp e Teeny Duchamp; e com a música electrónica de David Behrman, Gordon Mumma, David Tudor e Lowell Cross; realizada a 5 de Março de 1968 no Ryerson Theatre, em Toronto, no Canadá.
* Ouroboros - serpente emblemática do antigo Egipto e da Grécia, representada com a causa na boca, continuamente devorando-se e renascendo de sei mesma. Um símbolo gnóstico e alquímico, Ouroboros expressa a unidade de todas as coisas, materiais e espirituais, que nunca desaparecem, mas mudam perpetuamente a forma num eterno ciclo de recriação.
OBRAS
Reunion XXI, 2018
Tabuleiro e peças de xadrez, madeira, fios El wire, sensores de luz, colunas de som, amplificadores, placa de som, Arduinos Mega, El Escudo Dos, Raspberry Pi.
25 x 50 x 50 cm
Ouroboros, 2018
Fitas NeoPixel, Arduino Mega.
Dimensões variáveis
TEXTO
Segundo a lenda, o inventor do xadrez terá pedido ao Rei, como recompensa, um bago de arroz na primeira casa, dois na segunda, quatro na terceira, e assim sucessivamente, até o tabuleiro estar preenchido. O governante riu, até compreender que a quantidade total é superior à produção de arroz do planeta inteiro durante mil anos.
De facto, segundo o número de Shannon, o número de jogos possíveis é inimaginavelmente superior ao número de átomos no universo observável. Como pode este infinito de possibilidades ser explorado artisticamente?
A performance realizada por Jonas Runa e Pacheco Pereira recorre a uma partida de xadrez sonoluminescente na qual as jogadas activam composições de som e luz. Assim, ao invés de uma experiência fechada e repetível, o resultado vive à mercê da incerteza, da forma aberta, da imaginação, do desconhecido.
O xadrez é um exemplo paradigmático dos avanços nas ciências da computação e na inteligência artificial. No entanto, simboliza também a enorme improbabilidade da vida. E como sugere Roger Penrose, o xadrez alerta ainda para a hipótese da não-computabilidade da consciência.
O ser humano não é apenas homo sapiens (racionalidade), mas também homo demens (loucura) e homo ludens (jogo). No jogo está Darwin e toda a evolução da vida, pois como afirma J. Huizinga: O jogo é mais velho que a cultura, pois a cultura (...) pressupõe a existência de uma sociedade humana e os animais não esperaram que o homem os ensinasse a jogar.
Desta forma, tal como no livro Alice do outro lado do espelho, de Lewis Carroll, a estrutura da obra de arte baseia-se nas jogadas duma partida de xadrez.
Jonas Runa
José Pacheco Pereira (n. Porto, 1949)
Historiador. Participou nas lutas estudantis e na acção política clandestina contra o regime ditatorial. É membro do Partido Social Democrata (PSD) desde 1988. Foi deputado pelo PSD durante três legislaturas. Eleito deputados ao Parlamento Europeu em 1999, foi vice-presidente do Parlamento Europeu de 1999 a 2004. Em 2004 foi nomeado embaixador de Portugal na UNESCO, tendo-se demitido do cargo. Participa activamente em conferências, debates, colóquios e seminários no país e no estrangeiro, por iniciativa de escolas, universidades, instituições científicas, fundações e associações. É colaborador regular da imprensa escrita e da televisão. Na rádio e depois na televisão participa desde a sua fundação no programa Quadratura do Círculo (antigo Flashback), o mais antigo programa de debate político em Portugal. Na blogosfera, criou os blogues Abrupto, Estudo sobre o Comunismo e Ephemera. É autor de livros e artigos versando questões de história política e social de Portugal e do mundo contemporâneo. Foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade, pelo Presidente Jorge Sampaio. É Presidente da Associação Cultural Ephemera e tem-se dedicado a salvar tudo o que pode da nossa memória colectiva.